ALUNOS SURDOS NO ENSINO REGULAR
ACESSIBILIDADE
Alunos surdos no ensino regular
Sara R. Oliveira| 2007-11-21
A criança surda "deverá estar num meio verdadeiramente bilingue" para desenvolver a primeira língua - a Língua Gestual Portuguesa.
Os números são conhecidos. Cerca de 800 alunos surdos distribuídos por vários estabelecimentos de ensino. Este ano lectivo, 65 formadores, mais 12 do que
no ano passado, 58 intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP), mais 17, além de 146 terapeutas ocupacionais, da fala e fisioterapeutas. O Ministério
da Educação (ME) sublinha, no seu site, as melhorias na área da educação especial, e anuncia que há 22 agrupamentos num total de 72 escolas para estudantes
surdos profundos e severos. E adianta que em perspectiva está a elaboração de um Programa de Língua Gestual Portuguesa para os alunos surdos que frequentam
a educação pré-escolar e os ensinos Básico e Secundário. "A criação de redes de escolas de referência permite uma melhor organização dos recursos humanos,
materiais e didáctico-pedagó
Os alunos surdos estão verdadeiramente integrados no ensino regular? "Uma criança surda numa turma de crianças ouvintes está fisicamente na sala, mas o
acesso à informação e a todas as aprendizagens que se fazem em sala de aula é muito limitado. Isto acontece porque toda a comunicação na sala, a transmissão
dos conhecimentos, é em português oral. A criança não ouve, logo não tem acesso às aprendizagens como os colegas têm", observa Paula Estanqueiro, coordenadora
da Unidade de Língua Gestual da Associação Portuguesa de Surdos. A responsável considera que é altura de se avaliar o acesso e sucesso escolares dos alunos
surdos, uma vez que "a integração de crianças surdas isoladamente em turmas de crianças ouvintes é uma prática comum em Portugal".
"O professor é colocado perante uma turma em que existe uma criança surda, sem nunca ter tido qualquer tipo de preparação que o capacite para trabalhar
eficazmente com ela. Tenta dar o seu melhor, mas tem a turma toda para ensinar. A criança surda vai crescendo, passando de ano com poucos conhecimentos
reais. Chega ao 9.º ano, ou ao 12.º ano, e apercebe-se de que não tem os conhecimentos que deveria ter, que o certificado escolar não corresponde aos seus
conhecimentos reais, como se tivesse sempre sido ensinada numa língua estrangeira, que nunca conseguiu dominar, para apreender as matérias que lhe são
passadas nessa língua", realça. Para Paula Estanqueiro, no pré-escolar e no Ensino Básico, a criança surda "deverá estar num meio verdadeiramente bilingue"
para desenvolver a primeira língua, a LGP, e iniciar a aprendizagem do português. "O aluno surdo deverá ter acesso pleno a todos os conteúdos curriculares,
com o mesmo grau de profundidade e de exigência que se proporciona aos alunos ouvintes." Conhecimentos que, em seu entender, devem ser transmitidos na
primeira língua, "a que domina melhor e na qual pode questionar, raciocinar e apreender sentidos". A coordenadora admite, no entanto, a realização de actividades
em conjunto, entre alunos surdos e ouvintes, "aprendendo desta forma a conhecer e respeitar as diferenças, conhecendo o outro como diferente mas seu igual,
com as mesmas capacidades e direitos". "Para um verdadeiro acesso à língua, é necessário que se dê à LGP o mesmo número de horas que se dá para a aprendizagem
do português como primeira língua aos alunos ouvintes", defende.
Para Paula Estanqueiro, a intervenção começa bem cedo. "É preciso olhar para a criança surda e deixar de ver uma criança que não ouve, e antes ver que
é uma criança surda, que pertence a uma comunidade linguística e cultural rica, a comunidade surda, que tem direito a adquirir uma língua que para ela
é natural, a LGP." "A intervenção precoce, feita de forma adequada, incluindo profissionais surdos que poderão servir de modelo de língua e de identificação
para a criança e a família, é essencial", reforça.
Joana Rita Sousa, intérprete de Língua Gestual Portuguesa com quatro anos de experiência na Unidade de Apoio a Alunos Surdos de Leiria, considera que a
integração dos alunos surdos no ensino regular acontece, mas há obstáculos que têm de ser contornados. "Essa integração existe, mas não em pleno porque
há a barreira da comunicação." "Não é uma coisa imediata com os que falam a mesma língua, demoram-se dois a três anos a criar laços de amizade com os colegas
de turma", afirma. A técnica conta que "os alunos estão em turmas de surdos" na unidade de Leiria. "Tudo o que sejam aulas mais teóricas, desde o 1.º ciclo
ao Secundário, os alunos surdos estão à parte da turma, mas não estão isolados entre si". A separação entre alunos surdos e ouvintes prende-se com o ritmo,
não com a capacidade de aprendizagem. "Os ritmos são diferentes para a língua portuguesa e para a língua gestual. Nas aulas mais práticas, os alunos são
integrados", acrescenta. "Os resultados têm sido bons. Os alunos não ficam inibidos de fazer algumas questões, de tirar dúvidas." Joana Sousa lamenta,
no entanto, a tardia colocação dos técnicos e formadores da área de língua gestual, que no início de Outubro, duas semanas depois do arranque do ano lectivo,
ainda estavam a ser colocados. "A este nível ainda funciona muito mal. Os alunos ficam prejudicados e a integração não existe", remata.
Na Unidade de Apoio a Alunos Surdos de Santa Catarina, Caldas da Rainha, os alunos surdos estão no mesmo espaço com os restantes colegas, tanto na parte
mais teórica como na prática. Vanessa Lopes, terapeuta da fala dessa unidade, revela que é estabelecido um plano de acompanhamento individual, com objectivos
definidos, para os alunos surdos. "Em termos sociais, a integração tem funcionado muito bem", sublinha. "São muito bem aceites pelos colegas, sentem-se
iguais aos outros." Na opinião da técnica, nos anos em que há muitas disciplinas e uma carga horária "pesada", deveria "ser explorada uma determinada área
e não querer abranger tudo". Vanessa Lopes também realça o atraso nas colocações e a mudança dos técnicos que poderá levar à alteração do projecto de trabalho.
"Quando não é a mesma pessoa que vai continuar o trabalho, começa tudo do zero", aponta.
Fonte: http://www.educare.
2 Comentários:
Recordo o meu passado... Estar à frente nas carteiras da sala já não chegava, dividida entre o permanecer toda a aula a olhar para os lábios do professor ou escrever apontamentos das poucas coisas que ouvia... um dilema. Esta fase passou... Quando cheguei à faculdade, vi um problema maior: as intermináveis filas de alunos que se faziam para se sentarem nas carteiras da frente... as salas de 100m2 que me obrigavam a estar lá ao fundo, arranjei uma solução, que ainda hoje os meus pais desconhecem. Vou partilhar convosco... Os meus pais antes de irem trabalhar acordavam-me para as aulas, eu levantava-me e vestia-me, depois de os meus pais sairem para trabalhar, voltava a enfiar-me na cama. Ia apenas às aulas de números (tinham sempre a presença do quadro), nas aulas de matemática e outras similares, quase que a sala era só para mim... aprendi o complexo mundo da matemática a olhar para o quadro, olhava para as equações, fixava atentamente e tentava na minha cabeça chegar ao resultado final e consegui. As aulas teoricas foram passando de uns anos para os outros, mas acabei por fazê-las decorando os textos que os meus colegas me dispensavam. Aos que me deram apontamentos, o meu bem hajam; foi toda uma vida de estudo sempre a pedir apontamentos, pois as frases estavam sempre incompletas por culpa das palavras que não ouvia e/ou entendia.... Já passou e consegui.
Hoje decidi aprender LGP e a minha filha, minha ouvinte (ela me avisa que o telefone está a tocar) está sempre ansiosa por aprender coisas novas, com 2 anos de idade tem uma memória maior que a minha. Deixo aqui o meu testemunho das dificuldades que senti no meio escolar...
sSou Neyla,ouvinte,brasileira, professora de matemática e física, e professora de sala de recursos multifuncionais.onde onde tanto na sala regular como na sala de educação especial trabalho com alunos surdos. Também estou concluindo a pós-graduação em Intérprete de Língua de Sinais Brasileira. Ler seu texto me faz relfetir em muitas coisas, não sei se concordo ou não com a inclusão. Talvez sim, mas não da maneira como está sendo empregada, mas por outro lado,de alguma forma ela deveria acontecer. Aqui no Brasilainda sofremos muitos problemas educacionais, não somente com alunos que apresentem alguma deficiência,mas na educação em geral. Oque me deja motivada em relação a inclusão é que nos últimos três anos, vi um progresso enorme na educação. Vi professores despertando para o recebimento de alunos especiais. Na educação de surdos, a escola que trabalho tem feito muitos avanços. Os professores que antes regeitavam a inclusão, teem procurado aprender a línguagem de sinais e melhorar a metodologia para que não somente o alunos surdos,mas todos em geral possam aprender juntos, se desenvolver. Na sala de recursos multifuncionais, fazemos um trabalho diferenciado, com oficinas de libras tanto para os professores como para os alunos, e com isso estamos vemos a interação destes com os alunos surdos, em sido uma vitória essse despertar.É maravilhoso ver que o alunos surdo não mais está excluído, e sim está sendo integrado, estÁ discutindo, está interagindo, está se desenvolvendo. O importânte é fazer o despertar, fazer com que as autoridades,os professores, os alunos, a família,a comunidade, se abram para o surdo. Muitos ainda teem a idéia que o surdo é deficientemental,ou uma cópia mal feita doouvinte, mas não é assim, O surdo é humano,norma, com as mesmas capacidade e inteliencia de umouvinte, mas que necessita ser respeitado em sua diferencia, e que tenha sua primeira língua reconhecida e respeitada.Adoro meu trabalho, amo a língua de sinais.E tenho lutado junto com meus amigos surdos e intérpretes para que o Brasil melhore sua educação e a inclusão deixe de ser algo só de fachada, e sim seja algo concreto e verdadeiro. Um abraço.
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