LÍNGUA PODE SER FACTOR DISCRIMINATÓRIO
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
INTERNACIONAL
31/3/2006
Língua pode ser factor discriminatório
Correspondente em Madrid
Em 2007 a maior feira do livro do mundo, em Frankfurt, terá como tema a Catalunha. E, de acordo com uma moção do parlamento dessa comunidade espanhola, apenas serão convidados os escritores que escrevam em catalão - "únicos representantes da literatura local". De fora ficará, por exemplo, Javier Cercas, catalão que escreve em castelhano - o seu livro Soldados de Salamina vendeu mais de um milhão de exemplares. No entanto, Cercas não se mostrou preocupado: "Tenho que dizer-lhes que não sou nenhuma vítima, porque na Catalunha ninguém me persegue (...). A realidade, a felizmente aborrecida realidade, é que na Catalunha todos falam o que lhes apetece, todos são bilingues, salvo alguns que não falam o castelhano".Durante a ditadura franquista, o catalão estava proibido, por isso, os sucessivos governos da comunidade, após a instituição da democracia, intensificaram o ensino do idioma, reforçando a ideia de que o catalão era a língua própria do território, mas respeitando o direito pessoal de se usar o castelhano. Com a proposta do novo estatuto para esta autonomia "histórica", a polémica agravou-se. O documento consolida o catalão como idioma de "uso normal e preferente" na administração pública e no ensino - o que na prática já acontece.O motivo da controvérsia reside na obrigação de que todos os habitantes da Catalunha conheçam a língua, o que pode ser considerado uma forma de discriminação e que dificultaria, por exemplo, a vida de um andaluz, um basco ou imigrante que quisessem ser funcionários do Estado.Hoje, na Catalunha, 48, 8 por cento dos habitantes consideram como língua própria o catalão, e 44,3 o castelhano. No plano social, há uma convivência pacífica entre os idiomas, especialmente nos centros urbanos - no meio rural o bilinguismo é menos comum, e muitos jovens catalães não dominam bem o castelhano. Mas nos bares e restaurantes de Barcelona salta-se de uma língua para outra. Já no plano institucional, o catalão manda. E quando os deputados tentaram usar o castelhano no parlamento da comunidade, a iniciativa foi considerada um escândalo. Desde 2005 que as escolas secundárias foram aconselhadas a usar apenas o catalão em todas as actividades docentes, com excepção para alunos recém-chegados.Nos últimos meses, alguns pais apresentaram queixas por não conseguirem aulas em castelhano para os filhos. O caso mais célebre foi o de dois irmãos surdos-mudos profundos - com 11 e 6 anos - que após complicadas cirurgias, que lhes facilitaram a capacidade de comunicação, apenas conseguiram ter aulas em catalão, mesmo que a língua falada em casa fosse o castelhano. Os pais reclamaram durante um ano, e receberam como resposta que seria melhor para as crianças estudarem em catalão. Por fim, receberam apoio em castelhano, fora do normal horário escolar - de acordo com a lei, todos têm direito a aprender nas duas línguas. O pai procura agora trabalho fora da Catalunha e pretende mudar-se com a família. O proteccionismo do catalão, mais do que uma tentativa de recuperar os anos perdidos do franquismo, tornou-se num instrumento de afirmação nacionalista - alguns não entendem o biliguismo como uma mais valia, como se fossem um casal de nacionalidades diferentes em que o pai preferisse que os filhos apenas soubessem falar a sua língua. Sobre o futuro, e mais preocupado com questões práticas, o linguista Juan Ramón Lodares escreveu: "Amanhã, alguém que desde criança não tenha aprendido o catalão, o valenciano, o galego ou o basco, encontrará dificuldades em arranjar trabalho nas zonas onde se concentra 40 por cento da população espanhola, isto é, Catalunha, Valência, Baleares, Galiza e País Basco."
INTERNACIONAL
31/3/2006
Língua pode ser factor discriminatório
Correspondente em Madrid
Em 2007 a maior feira do livro do mundo, em Frankfurt, terá como tema a Catalunha. E, de acordo com uma moção do parlamento dessa comunidade espanhola, apenas serão convidados os escritores que escrevam em catalão - "únicos representantes da literatura local". De fora ficará, por exemplo, Javier Cercas, catalão que escreve em castelhano - o seu livro Soldados de Salamina vendeu mais de um milhão de exemplares. No entanto, Cercas não se mostrou preocupado: "Tenho que dizer-lhes que não sou nenhuma vítima, porque na Catalunha ninguém me persegue (...). A realidade, a felizmente aborrecida realidade, é que na Catalunha todos falam o que lhes apetece, todos são bilingues, salvo alguns que não falam o castelhano".Durante a ditadura franquista, o catalão estava proibido, por isso, os sucessivos governos da comunidade, após a instituição da democracia, intensificaram o ensino do idioma, reforçando a ideia de que o catalão era a língua própria do território, mas respeitando o direito pessoal de se usar o castelhano. Com a proposta do novo estatuto para esta autonomia "histórica", a polémica agravou-se. O documento consolida o catalão como idioma de "uso normal e preferente" na administração pública e no ensino - o que na prática já acontece.O motivo da controvérsia reside na obrigação de que todos os habitantes da Catalunha conheçam a língua, o que pode ser considerado uma forma de discriminação e que dificultaria, por exemplo, a vida de um andaluz, um basco ou imigrante que quisessem ser funcionários do Estado.Hoje, na Catalunha, 48, 8 por cento dos habitantes consideram como língua própria o catalão, e 44,3 o castelhano. No plano social, há uma convivência pacífica entre os idiomas, especialmente nos centros urbanos - no meio rural o bilinguismo é menos comum, e muitos jovens catalães não dominam bem o castelhano. Mas nos bares e restaurantes de Barcelona salta-se de uma língua para outra. Já no plano institucional, o catalão manda. E quando os deputados tentaram usar o castelhano no parlamento da comunidade, a iniciativa foi considerada um escândalo. Desde 2005 que as escolas secundárias foram aconselhadas a usar apenas o catalão em todas as actividades docentes, com excepção para alunos recém-chegados.Nos últimos meses, alguns pais apresentaram queixas por não conseguirem aulas em castelhano para os filhos. O caso mais célebre foi o de dois irmãos surdos-mudos profundos - com 11 e 6 anos - que após complicadas cirurgias, que lhes facilitaram a capacidade de comunicação, apenas conseguiram ter aulas em catalão, mesmo que a língua falada em casa fosse o castelhano. Os pais reclamaram durante um ano, e receberam como resposta que seria melhor para as crianças estudarem em catalão. Por fim, receberam apoio em castelhano, fora do normal horário escolar - de acordo com a lei, todos têm direito a aprender nas duas línguas. O pai procura agora trabalho fora da Catalunha e pretende mudar-se com a família. O proteccionismo do catalão, mais do que uma tentativa de recuperar os anos perdidos do franquismo, tornou-se num instrumento de afirmação nacionalista - alguns não entendem o biliguismo como uma mais valia, como se fossem um casal de nacionalidades diferentes em que o pai preferisse que os filhos apenas soubessem falar a sua língua. Sobre o futuro, e mais preocupado com questões práticas, o linguista Juan Ramón Lodares escreveu: "Amanhã, alguém que desde criança não tenha aprendido o catalão, o valenciano, o galego ou o basco, encontrará dificuldades em arranjar trabalho nas zonas onde se concentra 40 por cento da população espanhola, isto é, Catalunha, Valência, Baleares, Galiza e País Basco."
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