AS TRÉS CASAS
AS TRÊS CASAS
(Reescrita da História dos Três Porquinhos)
Foi já há muito tempo, nos anos 70 do século passado, que começámos a construir uma primeira casa para tentarmos melhorar a qualidade da educação de Surdos. Éramos jovens, cheios de entusiasmo por aquele trabalho novo, fascinados pelas capacidades desses nossos alunos e por uma língua que ainda não se chamava assim mas que já adivinhávamos que o era. Tínhamos confiança no futuro. Acreditávamos que seria uma casa sólida. Amigos suecos ofereceram-nos materiais e ensinaram-nos técnicas de construção. A casa ergueu-se e fomos cuidando dela o melhor que pudemos, procurando sempre saber mais e mais.
Mas um dia veio o lobo... Trazia pendurada na coleira uma chapa com o número 319 e um saco grande onde metia, muitas vezes estranhamente misturadas, cada uma despida da sua especificidade, todas as NEE’s... A casa começou a ficar um pouco abalada com essa confusão...
Passaram alguns anos. Nós sempre a querer arrancar a educação de Surdos da amálgama absurda daquele saco grande e o lobo a querer misturar tudo outra vez! Mas, como se costuma dizer, «água mole em pedra dura, tanto dá até que fura». E lá conseguimos erguer, com nova esperança e muita alegria, uma segunda casa sobre as ruínas da primeira. De construção ainda mais cuidada, ficava numa rua larga e tinha, pintado por cima da porta, o número 7520. Nela passaram a morar também, com os nossos alunos e connosco, formadores Surdos e intérpretes de uma língua que já era, finalmente, reconhecida como a verdadeira língua que sempre tinha sido. Mais tarde, terapeutas da fala... pouquinhos, mas alguns...
Mas um dia avistámos outro lobo... Num concurso de máscaras, pelo Carnaval, apareceu a rondar a casa e parece querer baralhar tudo e todos outra vez e (até custa a acreditar!) dizem que quer roubar-nos a nossa profissão (a nossa identidade!), proibindo-nos de continuar a ensinar, em aulas a sério, os nossos alunos!!! Devem ser só boatos, mas temos de estar atentos!
A terceira casa? Aquela, com bons alicerces, feita de tijolos bem cimentados, arejada e digna, que nenhum lobo conseguirá destruir? Quando ficará pronta? Lá para 2100? 3000? NÃO! Temos de deitar, todos juntos, mãos à obra e começar a construí-la JÁ! Com a ferramenta dos nossos gestos e das nossas palavras e a força serena da nossa razão!
Porto, 7 de Março de 2006
Júlia Maria Freire Rocha
(Professora da Escola de Paranhos- Porto)
(Reescrita da História dos Três Porquinhos)
Foi já há muito tempo, nos anos 70 do século passado, que começámos a construir uma primeira casa para tentarmos melhorar a qualidade da educação de Surdos. Éramos jovens, cheios de entusiasmo por aquele trabalho novo, fascinados pelas capacidades desses nossos alunos e por uma língua que ainda não se chamava assim mas que já adivinhávamos que o era. Tínhamos confiança no futuro. Acreditávamos que seria uma casa sólida. Amigos suecos ofereceram-nos materiais e ensinaram-nos técnicas de construção. A casa ergueu-se e fomos cuidando dela o melhor que pudemos, procurando sempre saber mais e mais.
Mas um dia veio o lobo... Trazia pendurada na coleira uma chapa com o número 319 e um saco grande onde metia, muitas vezes estranhamente misturadas, cada uma despida da sua especificidade, todas as NEE’s... A casa começou a ficar um pouco abalada com essa confusão...
Passaram alguns anos. Nós sempre a querer arrancar a educação de Surdos da amálgama absurda daquele saco grande e o lobo a querer misturar tudo outra vez! Mas, como se costuma dizer, «água mole em pedra dura, tanto dá até que fura». E lá conseguimos erguer, com nova esperança e muita alegria, uma segunda casa sobre as ruínas da primeira. De construção ainda mais cuidada, ficava numa rua larga e tinha, pintado por cima da porta, o número 7520. Nela passaram a morar também, com os nossos alunos e connosco, formadores Surdos e intérpretes de uma língua que já era, finalmente, reconhecida como a verdadeira língua que sempre tinha sido. Mais tarde, terapeutas da fala... pouquinhos, mas alguns...
Mas um dia avistámos outro lobo... Num concurso de máscaras, pelo Carnaval, apareceu a rondar a casa e parece querer baralhar tudo e todos outra vez e (até custa a acreditar!) dizem que quer roubar-nos a nossa profissão (a nossa identidade!), proibindo-nos de continuar a ensinar, em aulas a sério, os nossos alunos!!! Devem ser só boatos, mas temos de estar atentos!
A terceira casa? Aquela, com bons alicerces, feita de tijolos bem cimentados, arejada e digna, que nenhum lobo conseguirá destruir? Quando ficará pronta? Lá para 2100? 3000? NÃO! Temos de deitar, todos juntos, mãos à obra e começar a construí-la JÁ! Com a ferramenta dos nossos gestos e das nossas palavras e a força serena da nossa razão!
Porto, 7 de Março de 2006
Júlia Maria Freire Rocha
(Professora da Escola de Paranhos- Porto)
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