05 fevereiro 2006

JOVENS EM RISCO DE SURDEZ

CORREIO DA MANHÃ
5/2/2006

JOVENS EM RISCO DE SURDEZ


Música - especialistas avisam que geração dos Mp3 tem de baixar o volume

Jovens em risco de surdez

De auscultadores cada vez mais enterrados nos ouvidos, os jovens arriscam um futuro silencioso, com a perda irreversível de audição.

Para os pais com filhos viciados no iPod (o mais popular leitor de mp3) fica o alerta. E os motivos para receio multiplicam-se. Afinal, a música portátil atingiu dimensões nunca vistas. Longe estão os dias do velhinho walkman que, desde 1979, quando surgiu, conquistou uma geração. Actualmente, o advento dos aparelhos digitais, que aliam maior qualidade do som, capacidade de armazenar centenas de músicas e baterias que duram horas a fio (já há as que chegam às 20 horas), fez crescer o número de adeptos destas pequenas maravilhas, cujo volume máximo varia com a qualidade da gravação.

Mas, em média, o iPod atinge 112 decibéis (db). Mais do que uma motosserra (100 db) e muito mais do que os 80 db considerados seguros para o ouvido humano. A surdez é um dos preços a pagar.

“A música começa a ganhar espaço na surdez induzida pelo ruído”, confirma Alberto Santos, otorrinolaringologista no Hospital de Santa Maria. “A mais frequente continua a ser a surdez profissional. Nesta, a causa mais comum tem a ver com o manuseamento de armas de fogo (caçadores, polícias), mas a música alta surge logo em seguida.”

A tudo isto junta-se ainda a nova moda de auscultadores, com um design que os permite enterrar cada vez mais fundo no interior do ouvido. “O nosso pavilhão auditivo tem este formato para que o som seja amortecido e não incida directamente sobre o tímpano. Estes auscultadores podem provocar problemas graves porque o som chega lá direitinho.”

RECUPERAÇÃO DIFÍCIL

Nos Estados Unidos, um grupo de especialistas da Universidade de Northwestern revelou a sua preocupação com este tipo de aparelhos, depois de ter assistido jovens com problemas auditivos típicos de pessoas de idade. E não têm dúvidas. “Com os níveis de som de 100 db, são suficientes 15 minutos de música para começar a perder audição.”Controlar o tempo de exposição à música e não ceder à tentação de levar o volume ao máximo podem evitar o pior. “A partir de determinada intensidade surgem danos no ouvido interno, uma área nobre e onde é muito difícil haver recuperação”, refere Alberto Santos. A melhor forma de evitar, acrescenta, são os intervalos. “O nosso ouvido tem a capacidade de se defender, se tiver tempo para isso. Um pequeno intervalo sem ruído pode ser suficiente para o proteger.”Porque o risco de perder a audição é real, o especialista pede bom senso e educação para o uso correcto dos aparelhos. “Se os usarmos mal, nunca mais vamos ouvir com clareza. Perde-se o colorido da audição – como se, de repente, deixássemos de ver a cores e passássemos a ver tudo a preto e branco.”

TRANSPOSIÇÃO BEM ENCAMINHADA

Portugal, à semelhança do que acontece com os restantes países da União Europeia, tem até 15 de Fevereiro para transpor para a legislação nacional a Directiva 2003/10/CE do Parlamento Europeu, que estipula os 87 decibéis como o limite máximo de exposição diária ao barulho no local de trabalho. O objectivo é claro: proteger os trabalhadores contra o ruído excessivo. Uma transposição que, de acordo com fonte do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, deverá cumprir o prazo previsto. No entanto, a mesma fonte não exclui a possibilidade de dificuldades, tendo em conta o carácter de complexidade técnica do diploma. Segundo dados da Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, estima-se que mais de 60 milhões de trabalhadores – o equivalente à população da França – estejam expostos a altos níveis de ruído durante mais de um quarto do tempo laboral, o que pode originar problemas de saúde graves.

MÚSICOS SÃO VÍTIMAS DO BARULHO

Peter Townshead, 60 anos, guitarrista da banda Who, não tem dúvidas – a sua audição já não é o que era e a culpa é toda, garante, do ruído. Ou melhor, do som elevado que chegou mesmo, em 1976, a dar à banda onde tocou o título de mais barulhenta quando, durante um concerto, a música chegou aos 120 decibéis (mais do que o som produzido por um martelo pneumático).Como ele, um terço dos músicos de orquestra em todo o mundo sofre devido ao barulho elevado, a que se juntam outros nomes mais ‘rockeiros’ como Phil Collins, Neil Young, Sting, Mick Fleetwood ou Eric Clapton.Os músicos portugueses também não escapam. Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, não sabe até que ponto os seus ouvidos ficaram afectados com os anos de trabalho na música. “Mas sinto que não estão a cem por cento e um dos meus colegas de banda já teve mesmo de fazer tratamentos”, conta ao CM.António Paiva, presidente da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial, confirma que “os músicos são particularmente atingidos pelo ruído, já que estão expostos a barulho de alta intensidade durante bastante tempo”. E muitos destes problemas são mesmo irreversíveis. Por isso, o especialista aconselha a protecção. O uso de uma espécie de tampões no interior do ouvido, com um filtro que corta os ruídos mais intensos, torna-se obrigatório para quem trabalha lado a lado com o ruído, havendo mesmo campanhas internacionais que aconselham o seu uso junto dos músicos de rock.

MÚSICA PORTÁTIL: PASSADO E PRESENTE

WALKMAN

A música portátil nasceu no final dos anos 70. De origem japonesa, o walkman permitia ouvir música, em forma de cassetes, ao mesmo tempo que se podiam realizar todo o tipo de tarefas. Um feito inédito até então, suficiente para conquistar uma geração.

DISCMAN

Das cassetes aos CD foi um pequeno passo. Antes ainda do final dos anos 80, a Sony lançava uma novidade que rapidamente deixou o walkman para trás. O primeiro leitor portátil de CD, o D-50, conquistou o mundo e tornou-se a grande novidade dos anos 90.

MINIDISC

Foi o aparelho que se seguiu, mas não conseguiu alcançar na Europa e Estados Unidos o mesmo sucesso conseguido na pátria, o Japão. Trata-se de um sistema de armazenamento baseado num disco, uma tecnologia anunciada pela Sony em 1991 e introduzida em 92. MP3O desenvolvimento do sistema mp3 começou em 1987, na Alemanha. Tornou-se realidade em 1999 e, desde então, a sua popularidade tem vindo a subir. Em 2005, as vendas de mp3 cresceram 200 por cento e só a Apple já vendeu mais de 20 milhões de iPods no mundo.

TELEMÓVEIS

Há muito que o telefone deixou apenas de servir para fazer chamadas. Hoje, a possibilidade de ouvir música via telefone móvel é uma realidade, assim como é também possível fazer o ‘download’ de canções directamente da internet, muitas vezes sem qualquer custo.

Carla Marina Mendes

3 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Deitei-me para ouvir música com meu mp4 e acabei dormindo...quando acorei, percebi que havia se passado muito tempo com aquilo ligado ao ouvido...desliguei o aparelho e voltei a dormir...no dia seguinte tive dificuldades em me levantar da cama, pois não estava satisfeito com o descanso...ao chegar ao trabalho e dar bom dia às pessoas percebi que a voz humana me era percebida como um som abafado e tinha que pedir, por várias vezes que as pessoas repetissem pois eu não as entendia...estou com medo que essa perda seja definitiva...vou ao médico hj a tarde....mas fica aí um conselho...não durma com headphones.

07 novembro, 2006 12:51  
Blogger caracolinha disse...

Pois é, também eu sou música... e infelizmente o meu ouvido esquerdo está a dar de si...
Já fui ao médico e ele aconselhou-me uns tampões para os ouvidos... o que eu ando à procura é de uns tampões apropriados para músicos, isto é, que filtrem a intensidade sonora mas não decurem o timbre do meu belo instrumento que toco, a flauta!!!
Se alguém me souber indicar...
De facto, os próprios músicos, na Escola Superior de Música não são alertados para esse facto, uma doença profissional... e o pior de tudo é que é um paradoxo... somos músicos, precisamos do ouvido a 100%, mas ao mesmo tempo somos profissionais altamente sujeitos à surdez... :(

10 novembro, 2007 10:24  
Anonymous Anónimo disse...

eu sou dj, e como é de prever, massacro em demasia o ouvido. infelizmente quando era miudo tive uma lesão no ouvido direito, nao fiquei surdo por milagre, e por ironia sou dj, e hoje ja tou a ver o resultado, que de vez em qdo esse ouvido incomoda-me bastante por estar a receber ruido. acreditem ou nao, só de destar a falar ao telemóvel muito tempo, usando o ouvido direito, incomoda me. se por acaso souberem de um sitio onde arranjar tampoes adequados para musicos, agradecia que dissessem. Muito obrigado, boas mixes, boas produçoes e muito cuidado ;)

21 março, 2008 15:00  

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