TELEPROPAGANDA
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
NACIONAL
TELEPROPAGANDA
10/1/2006
Telepropaganda
Miguel Gaspar
Editor Executivo
Quem fala nos tempos de antena? Os candidatos, pois claro. Mas não só. Também os intérpretes de língua gestual, que se tornaram parte imprescindível destas telecampanhas. É fascinante o impacte que produzem. Graças a eles, os surdos podem compreender a mensagem dos candidatos e fazer melhor a sua opção de voto em consciência. Comigo, acontece o oposto fico fascinado a ver a linguagem gestual e deixo de ouvir o que os candidatos têm para dizer. Não me posso queixar. É mais interessante imaginar que um intérprete de língua gestual pode estar a dizer o que lhe vai na real gana. Do género: está ali o Manuel Alegre a falar dos desempregados e da Pátria e da alma e o tradutor em baixo: "Para confeccionar o bolo-rei, picam-se as frutas cristalizadas e põem-se a macerar com o vinho do Porto juntamente com as frutas secas." Era assim uma maneira de dar aos tempos de antena uma dimensão assim mais polissémica, prontos, um tempo de antena, muitas mensagens, estão a ver? E, afinal de contas, o gesto é que conta, não é verdade?O ponto é que os tempos de antena estão cheios de mensagens silenciosas. Por exemplo, os candidatos adoram falar com a biblioteca em pano de fundo, dá aquele ar sério. Assim, enquanto falava Mário Soares, eu esqueci o intérprete de língua gestual e fixei a biblioteca. A um canto, discreta, uma fotografia de João Paulo II. O candidato é laico, mas polissémico.Com Francisco Louçã, a conversa é diferente. O tempo de antena trouxe alguns exemplos do tradicional humor bloquista dedicados ao prof. Cavaco. Ele aparecia primeiro como o leão da Metro Goldwin Mayer (piada anti-americana? anti-sportinguista?) e, depois, deglutindo o célebre bolo-rei de outras épocas, cozido e pincelado com geleia, claro. Omnipresente no tempo de antena de Louçã, Cavaco foi, também ele, transformado num intérprete de uma espécie de língua gestual. Um leão do bolo-rei. Um homem que não fala está sempre a dizer muitas coisas.
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Miguel Gaspar
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Quem fala nos tempos de antena? Os candidatos, pois claro. Mas não só. Também os intérpretes de língua gestual, que se tornaram parte imprescindível destas telecampanhas. É fascinante o impacte que produzem. Graças a eles, os surdos podem compreender a mensagem dos candidatos e fazer melhor a sua opção de voto em consciência. Comigo, acontece o oposto fico fascinado a ver a linguagem gestual e deixo de ouvir o que os candidatos têm para dizer. Não me posso queixar. É mais interessante imaginar que um intérprete de língua gestual pode estar a dizer o que lhe vai na real gana. Do género: está ali o Manuel Alegre a falar dos desempregados e da Pátria e da alma e o tradutor em baixo: "Para confeccionar o bolo-rei, picam-se as frutas cristalizadas e põem-se a macerar com o vinho do Porto juntamente com as frutas secas." Era assim uma maneira de dar aos tempos de antena uma dimensão assim mais polissémica, prontos, um tempo de antena, muitas mensagens, estão a ver? E, afinal de contas, o gesto é que conta, não é verdade?O ponto é que os tempos de antena estão cheios de mensagens silenciosas. Por exemplo, os candidatos adoram falar com a biblioteca em pano de fundo, dá aquele ar sério. Assim, enquanto falava Mário Soares, eu esqueci o intérprete de língua gestual e fixei a biblioteca. A um canto, discreta, uma fotografia de João Paulo II. O candidato é laico, mas polissémico.Com Francisco Louçã, a conversa é diferente. O tempo de antena trouxe alguns exemplos do tradicional humor bloquista dedicados ao prof. Cavaco. Ele aparecia primeiro como o leão da Metro Goldwin Mayer (piada anti-americana? anti-sportinguista?) e, depois, deglutindo o célebre bolo-rei de outras épocas, cozido e pincelado com geleia, claro. Omnipresente no tempo de antena de Louçã, Cavaco foi, também ele, transformado num intérprete de uma espécie de língua gestual. Um leão do bolo-rei. Um homem que não fala está sempre a dizer muitas coisas.
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